O Último Jornal: A Jornada de um Entregador na Era da Automação
Conheça a história de João, um entregador de jornais aposentado, e descubra como a automação e a inteligência artificial estão redefinindo o setor de entregas. Explore dados do World Economic Forum e prepare-se para as mudanças no mercado de trabalho.

Em uma São Paulo que acordava com o cheiro de café fresco e o barulho dos primeiros carros, João era uma figura constante. Por mais de quatro décadas, ele foi o arauto das notícias, o elo entre o mundo e as casas dos moradores do bairro da Lapa. Seu fiel companheiro, um velho bicicleta cargueira, carregava pilhas de jornais, cada um com as manchetes do dia, as histórias que moldariam as conversas matinais. João, hoje com 72 anos e aposentado desde 2024, viu o mundo mudar de sua perspectiva única: a da rua, da entrega, do contato humano diário. Ele representa a última geração de um ofício que, como o próprio jornal impresso, está se tornando uma memória.
A rotina de João começava antes do sol nascer. Às 4h da manhã, ele já estava na gráfica, sentindo o cheiro da tinta fresca e a textura do papel. Cada jornal era dobrado com precisão, organizado por rota, e então a jornada começava. Chuva ou sol, feriado ou dia útil, João estava lá. Ele conhecia cada rua, cada portão, cada cliente. Sabia quem gostava do jornal na caixa de correio, quem preferia pendurado na maçaneta. Era mais do que uma entrega; era um ritual, uma conexão. Mas, enquanto João pedalava, o mundo lá fora já estava em uma rota de colisão com o futuro, um futuro impulsionado pela automação e pela inteligência artificial.
A Ascensão da Automação: O Fim de Uma Era?
A história de João não é apenas sobre a nostalgia de um tempo que se foi, mas um espelho das profundas transformações que o mercado de trabalho está vivenciando. O World Economic Forum (WEF), em seu relatório Future of Jobs Report 2023, projeta que 23% dos empregos globais devem mudar nos próximos cinco anos, com 69 milhões de novos postos de trabalho surgindo e 83 milhões sendo eliminados. Entre as profissões mais impactadas pela automação e pela inteligência artificial, estão justamente aquelas ligadas à logística e entregas, como motoristas e entregadores.
A visão de drones zunindo pelos céus de grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, ou robôs autônomos percorrendo calçadas para entregar pacotes, já não é mais ficção científica. Empresas de tecnologia e varejo estão investindo pesado em soluções que prometem maior eficiência, velocidade e redução de custos. Veículos autônomos, sistemas de roteirização inteligente e centros de distribuição totalmente automatizados são a nova realidade. Para João, que entregava jornais com a força de suas pernas e o conhecimento de suas rotas, essa evolução é quase incompreensível, mas inegável.
O Impacto no Mercado de Trabalho e a Necessidade de Reskilling
Para jovens profissionais e curiosos sobre o futuro do trabalho, a história de João serve como um alerta e um guia. A automação não significa o fim do trabalho, mas sim uma redefinição. Os dados do WEF mostram que, embora algumas profissões sejam eliminadas, outras surgirão, exigindo novas habilidades. A demanda por especialistas em IA e Machine Learning, engenheiros de robótica, analistas de dados e especialistas em energias renováveis está em ascensão.
O desafio para a atual e as futuras gerações é a adaptabilidade. Aqueles que antes dependiam de tarefas repetitivas e manuais precisarão desenvolver competências digitais, pensamento crítico e criatividade. A capacidade de aprender continuamente (lifelong learning) e de se reinventar profissionalmente será crucial. Governos, empresas e instituições de ensino têm um papel fundamental em oferecer programas de reskilling e upskilling para preparar a força de trabalho para essa nova era.
João, em sua simplicidade, sempre soube a importância de se adaptar. Quando o jornal impresso começou a perder força para a internet, ele viu muitos colegas desistirem. Mas ele continuou, encontrando novas rotas, novos clientes, até que a aposentadoria chegou. Sua resiliência é uma lição valiosa. Hoje, a adaptação exige mais do que apenas mudar de rota; exige mudar de mentalidade, de conjunto de habilidades.
O Legado de João e o Futuro das Entregas
João não entrega mais jornais, mas sua história ecoa a transição de um mundo analógico para um digital, de um trabalho braçal para um automatizado. O último jornal que ele entregou em 2024 marcou o fim de uma era para ele, mas o início de outra para o setor de entregas. A eficiência e a inovação trazidas pela IA e pela automação são inegáveis, mas é essencial lembrar que a tecnologia deve servir à humanidade, e não o contrário.
Para os jovens profissionais, a mensagem é clara: o futuro do trabalho é dinâmico e exige proatividade. Desenvolver habilidades em áreas como programação, análise de dados, cibersegurança e gestão de projetos tecnológicos não é mais um diferencial, mas uma necessidade. Além disso, as chamadas soft skills – comunicação, colaboração, inteligência emocional – se tornam ainda mais valiosas em um cenário onde as máquinas cuidam das tarefas repetitivas.
A jornada de João nos lembra que, por trás de cada avanço tecnológico, há sempre uma história humana. E embora o último jornal possa nunca mais chegar às nossas portas pelas mãos de um entregador como ele, o espírito de serviço e a busca por inovação continuam a impulsionar o mundo, agora com a ajuda de algoritmos e robôs. O desafio é garantir que essa transição seja justa e que todos tenham a oportunidade de participar do futuro que já está aqui.